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       Gerson 
        Simões Monteiro 
       
        A juventude é a grande fase de descobertas... De experimentação 
        de novos sentimentos e sensações. É justo, neste 
        período de transição entre os estágios infantil 
        e adulto, que o turbilhão dos mais diferentes pensamentos torna-se 
        presente na mente do jovem, levantando conceitos, tabus e assuntos que 
        eram tidos como certos e inabaláveis. O chão, outrora alicerçado 
        pelos pais, aos poucos, passa a desvanecer-se sob seus pés, exigindo 
        que ele, agora, construa seu próprio caminho. 
      Neste exato 
        momento de decisão e reflexão, o jovem “imaturo” 
        ou o adolescente que jamais possuiu um solo firme e estruturado por onde 
        pudesse caminhar, se desorienta por completo, e busca, em atitudes radicais, 
        solucionar sua inquietação e desconforto com o mundo. 
      Diante deste 
        quadro, pode surgir então o comportamento suicida, que, por sua 
        vez, pode ser dividido em gestos e tentativas suicidas. Os gestos estão 
        relacionados a um comportamento de lesão auto-infligida, não 
        havendo, necessariamente, a intenção de morrer; os quais 
        podem ser considerados “comportamentos para chamar atenção”. 
        Já na tentativa, há a intenção do suicida 
        em ser seriamente ferido ou morrer. 
      Vale salientar 
        que estudos sobre o assunto têm demonstrado que há elementos 
        e situações que podem contribuir para tais gestos e comportamentos. 
        
      FATORES 
        DE RISCO 
        
      A depressão 
        é, certamente, o diagnóstico psiquiátrico mais observado 
        em adolescentes que tentam o suicídio. Desesperança, transtornos 
        de conduta, consumo de drogas, disfunção familiar, eventos 
        estressantes, abusos (físicos, sexuais ou psicológicos) 
        e fatores biológicos podem ser considerados os principais agentes 
        causadores deste distúrbio. 
      No entendimento 
        dos técnicos do Ministério da Saúde, o suicídio 
        já é considerado um problema de saúde pública 
        e tem como principal causa a depressão. Esta doença, segundo 
        a Organização Mundial de Saúde, atinge pelo menos 
        8% da população mundial, o que constitui, em termos do nosso 
        país, aproximadamente 15 milhões de brasileiros em estado 
        depressivo. 
      Quase sempre 
        o jovem que pensa em suicídio dá sinal desta idéia, 
        através de um comportamento diferente no seu modo de viver, passando 
        a buscar refúgio na solidão, isolando-se de tudo e de todos. 
        Notam-se principalmente a falta de amigos e o isolamento, pois o jovem, 
        por sua própria natureza, busca o grupo como forma de afirmação 
        da sua identidade. 
      Os pensamentos 
        sobre suicídio não devem ser considerados sem importância 
        ou vistos com indiferença. É falso o conceito de que “quem 
        fala sobre suicídio não tenta nem tentará suicidar-se”. 
        Quaisquer que sejam os seus problemas, pensamentos como: “Eu preferia 
        estar morto”, “Eu não posso fazer nada”, “Eu 
        não agüento mais”, “Eu sou um perdedor e um peso 
        para os outros”, e “Os outros vão ser mais felizes 
        sem mim”, indicam que o jovem está correndo sérios 
        riscos. 
      Esse é 
        o momento de ajudá-lo, procurando estar mais perto dele, demonstrando 
        que a presença de pais e amigos lhe faz bem. Fazê-lo sentir-se 
        amado é fundamental para levantar a sua auto-estima.  
      É 
        importante saber que o jovem com baixa auto-estima sente medo, ansiedade 
        e outros estados negativos nos âmbitos físico e psicológico. 
        Passa, em razão disso, a não se cuidar: apresenta aparência 
        desleixada, olhar para baixo, cabeça curvada. Sente-se menor do 
        que os outros, isolando-se dos amigos e do grupo a que está vinculado. 
        Sem objetivos na vida, ele acaba entrando num processo depressivo de funestas 
        conseqüências. 
      
      O 
        PAPEL DA FAMÍLIA 
        
      A maioria 
        das tentativas e das concretizações de suicídios 
        entre jovens acontece principalmente em lares perturbados, com famílias 
        desestruturadas; ou oriundos de grupos familiares que apresentam doenças 
        somáticas e / ou mentais; ou ainda, por jovens que têm problemas 
        com a polícia ou a justiça. Quantas vezes foram crianças 
        não desejadas, em famílias de comportamento frio, sem carinho, 
        tristes, inseguras, revoltadas; famílias com tendência à 
        promiscuidade sexual e ao uso de álcool, fumo e drogas. 
      Os atos dos 
        jovens buscando a auto-eliminação são uma forma desesperada 
        de conseguir carinho, de chamar a atenção. Logo, o papel 
        da família é o de funcionar como eficaz antídoto 
        ao suicídio. 
      
      DADOS 
        ESTATÍSTICOS 
        
      Os índices 
        do recém-lançado “Mapa da Violência IV”, 
        da UNESCO, abrangendo o período entre 1993 e 2002, demonstram que 
        os suicídios no Brasil passaram de 5.553 em 1993 para 7.715 em 
        2002, representando um aumento de 38,9%. No mesmo período, o aumento 
        é bem superior ao registrado em óbitos por acidentes de 
        transporte (19,5%), mas ainda está abaixo dos homicídios 
        (62,3%). 
      Entre os 
        adolescentes e jovens de 15 a 24 anos, o aumento foi menor (30,8%), passando 
        de 1.252 para 1.637 suicídios entre 1993 e 2002. As situações 
        por estado são bem diferenciadas: no Amapá, Maranhão 
        e Paraíba, por exemplo, o número de suicídios de 
        jovens quadruplicou. Já em estados como São Paulo, Paraná 
        e Distrito Federal, registrou-se a queda dos índices. 
      Nas capitais, 
        o crescimento dos suicídios no período 1993 / 2002 foi bem 
        menor do que nos estados como um todo: 38,9% para os estados e 17,9% para 
        as capitais. Na população jovem essa diferença é 
        maior ainda: 30,8% de aumento nos estados, e só 4,9% nas capitais. 
         
      Também 
        verificamos que, nas capitais, os suicídios da população 
        em geral cresceram bem mais do que os da faixa jovem. Dentre elas, destacam-se 
        Macapá e Cuiabá, por terem mais que triplicado seu número 
        absoluto de suicídios na população total, no período 
        considerado. Entre os jovens das capitais, as taxas de suicídios 
        (5 em 100 mil) são levemente maiores do que as da população 
        total (4,4 em 100 mil), mas com tendência a cair. As maiores taxas, 
        tanto para a população total quanto para a de jovens, podem 
        ser encontradas nas regiões metropolitanas de Porto Alegre e Fortaleza. 
      Relativizando 
        os dados segundo o tamanho da população, apresentados no 
        referido Mapa, verifica-se que a taxa do Brasil no ano de 1993 foi de 
        3,7 suicídios para cada 100 mil habitantes. Com oscilações, 
        ela foi crescendo lentamente para, em 2002, apresentar-se em 4,4 suicídios 
        por 100 mil habitantes. Comparado com os restantes 66 países analisados, 
        o Brasil apresenta baixas taxas de suicídios, ocupando o 57º 
        lugar quando se trata de suicídios na população total 
        e o 53º nos suicídios juvenis. 
      Não 
        obstante, o tema, tão grave quanto delicado, deve continuar a merecer 
        a maior atenção de todos. 
      
      A 
        QUESTÃO DA IDADE 
      A incidência 
        etária nos óbitos por suicídio praticamente inexiste 
        até os 10 anos. A partir desta idade inicia-se uma forte escalada 
        ascendente, para chegar à sua máxima expressão aos 
        22 anos, faixa que registrou 218 suicídios no ano de 2002. A partir 
        daí ocorre uma leve queda, diminuindo progressivamente o número 
        absoluto à medida que a idade avança. 
       A taxa geral 
        de suicídios no mesmo período (1993 / 2002) cresceu 38,9%, 
        e, como no restante do mundo, subiu muito nas faixas mais idosas da população 
        – que costumam sofrer com doenças graves, dificuldades financeiras 
        ou, na terceira idade, viuvez e rejeição da família. 
        No entanto, o que leva os estudiosos a se preocuparem mais com os jovens 
        é que a incidência de suicídios nesta faixa etária 
        ocorre cada vez mais cedo e, muitas vezes, poderia ser evitada. 
      
      AÇÃO 
        DOS ESPÍRITOS OBSESSORES 
        
      A obsessão 
        é também uma das causas de muitos jovens darem fim à 
        vida física. No livro de nossa autoria “Suicídio e 
        Suas Conseqüências”, apresentamos o depoimento de Hilda, 
        Espírito de uma jovem suicida, no qual relata seus padecimentos 
        após a morte do corpo físico, deixando bem clara a causa 
        do seu gesto infeliz.  
      Segundo Hilda, 
        além da sua rebeldia em não aceitar a vida com suas naturais 
        dificuldades e frustrações, a influência de Espíritos 
        obsessores também foi um fator importante para levá-la ao 
        auto-extermínio. Aliás, sobre este assunto, Allan Kardec, 
        em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, esclarece que quase 
        sempre a obsessão exprime a vingança que um Espírito 
        exerce e que com freqüência se radica nas relações 
        que o obsidiado manteve com ele em encarnação anterior. 
        Esse fato pode ser constatado no seguinte trecho do seu depoimento, pela 
        psicofonia do médium Francisco Cândido Xavier, registrado 
        no livro “Vozes do Grande Além”: 
        
      “Fala-vos 
        humilde companheira que ainda sofre depois de aflitiva tragédia 
        no suicídio, alguém que conhece de perto a responsabilidade 
        na queda a que se arrojou, infeliz. 
      Obsediada 
        fui eu, é verdade, jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos 
        afetivos, acariciei a idéia de fuga, menoscabando todos os favores 
        que a Providência Divina me concedera à estrada primaveril. 
        Acalentei a idéia do suicídio com volúpia e, com 
        isso, através dela, fortaleci as ligações deploráveis 
        com os desafetos de meu passado, que falavam mais alto no presente. 
      Esqueci-me 
        dos generosos progenitores, a quem devia ternura, dos familiares com os 
        quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço; 
        olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em 
        justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, 
        ignorando deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha 
        restauração espiritual... Em razão disso, padeci, 
        depois do túmulo, todas as humilhações que podem 
        rebaixar a mulher indefesa...”. 
        
      A 
        TERAPIA 
        
      O Espírito 
        Hilda, no relato de sua dolorosa experiência, destaca que a sua 
        rebeldia em não aceitar a vida, com as naturais dificuldades da 
        juventude, gerou frustrações, e aconselha como os jovens 
        devem proceder para se defenderem da idéia nefasta do suicídio: 
        
      “Cumpramos 
        nossas obrigações, visitemos o amigo enfermo, atendamos 
        à criança desventurada, procuremos a boa execução 
        de nossas tarefas, busquemos o convívio do livro nobre, tentemos 
        a conversação robusta e edificante, refugiemo-nos no santuário 
        da prece e devotemo-nos à felicidade do próximo instalando-nos 
        sob a tutela do bem e agindo sempre contra o pensamento insensato, porque, 
        através dele, a obsessão se insinua, a perseguição 
        se materializa e, quando acordamos, diante da própria responsabilidade, 
        muitas vezes a nossa consciência chora tarde demais”. 
        
      PREDISPOSIÇÃO 
        AO SUICÍDIO 
      A idéia 
        recorrente, que vez por outra surge na mente de muitos jovens, decorre 
        de experiências de vidas anteriores. Para melhor entendermos essa 
        questão, valemo-nos dos esclarecimentos apresentados no capítulo 
        “Conversação Preciosa”, do livro “Ação 
        e Reação”, de André Luiz, pelo médium 
        Chico Xavier, quando o Ministro Sânzio, da Colônia Espiritual 
        Nosso Lar, responde a Hilário: 
        
      “Figuremos 
        um homem acovardado diante da luta, perpetrando o suicídio aos 
        quarenta anos de idade no corpo físico. Esse homem penetra no mundo 
        espiritual sofrendo as conseqüências imediatas do gesto infeliz, 
        gastando tempo mais ou menos longo, segundo as atenuantes e agravantes 
        de sua deserção, para recompor as células do veículo 
        perispirítico, e, logo que oportuno, quando torna a merecer o prêmio 
        de um corpo carnal na Esfera Humana, dentre as provas que repetirá, 
        naturalmente se inclui a extrema tentação ao suicídio 
        na idade precisa em que abandonou a posição de trabalho 
        que lhe cabia, porque as imagens destrutivas, que arquivou em sua mente, 
        se desdobrarão, diante dele, através do fenômeno a 
        que podemos chamar ”circunstâncias reflexas”, dando 
        azo a recônditos desequilíbrios emocionais que o situarão, 
        logicamente, em contato com as forças desequilibradas que se lhe 
        ajustam ao temporário modo de ser”. 
        
      No último 
        capítulo do livro “Memórias de um Suicida”, 
        quando o Espírito Camilo Cândido Botelho (pseudônimo 
        utilizado pelo Espírito Camilo Castelo Branco), relata a sua resolução 
        de reencarnar experimentando a cegueira dos quarenta aos sessenta anos 
        de idade, comenta também o seu receio de fracassar nessa nova experiência 
        reabilitadora.  
      Mas os instrutores 
        espirituais, dirigindo-se a ele, esclarecem que, ao reencarnar, Camilo 
        levará sólidos elementos de vitória adquiridos no 
        longo estágio educativo na vida espiritual, e que, por isso mesmo, 
        seria pouco provável que a sua vontade se corrompesse, ao ponto 
        de arrastá-lo a maiores e mais graves responsabilidades. 
      Diante, portanto, 
        dos esclarecimentos dos Espíritos André Luiz e Camilo Castelo 
        Branco, podemos concluir que, se por um lado a predisposição 
        ao suicídio pode surgir no curso da existência física, 
        por outro, a Misericórdia Divina providencia sempre os recursos 
        necessários ao Espírito falido, antes de sua volta à 
        Terra, para que ele saia vitorioso. 
       
        ASPECTOS PREVENTIVOS 
        
      A compreensão 
        dos conflitos da adolescência deve ser obrigação de 
        pais, professores, médicos clínicos, pediatras, hebiatras 
        e de qualquer adulto que lide com jovens. O adolescente deve ser estimulado 
        a se agrupar e discutir entre si os seus problemas. 
      A sociedade 
        deve dar condições para que nossos jovens, mesmo perturbados, 
        incorporem objetivos saudáveis nas suas perspectivas de vida, para 
        que possam se tornar bons pais e assim evitar ou diminuir o sofrimento 
        de novas gerações. 
      Aos pais, 
        cabe a tarefa de, desde cedo, dar orientação religiosa aos 
        seus filhos. Ela consiste basicamente em ensiná-los a orar a Deus, 
        a valorizar a vida como dom desse nosso Pai de Amor e Bondade, a enfrentar 
        os desafios e demonstrar-lhes a necessidade de amar todos os seus irmãos 
        em humanidade, caminho para se transformarem em verdadeiros homens de 
        bem. 
      Com essa 
        orientação espiritual, na adolescência, eles serão 
        capazes de distanciar-se dos vícios e das drogas que naturalmente 
        levam muitos jovens a morrer antes do tempo, constituindo-se tal comportamento 
        na principal proteção para não acabarem com a própria 
        vida. Diante disso, podemos concluir que a educação 
        do espírito é o melhor preventivo contra o suicídio.  |